À propos
Um objeto...
Pois bem: em 2005 eu tinha 21 anos, um diploma em letras e nenhuma experiência. Entrei numa sala de aula de francês nível 2, disse bonjour e comecei a ensinar um idioma que, até então, eu só sabia aprender. Eu não achava que faria disso minha carreira e, contudo, nunca mais tentei fazer outra coisa – e com isso, me refiro a aprender francês. Dou aulas há 19 anos para um público cada vez mais variado e me considero uma estudante veterana, alguém que, dia após dia, descobre e redescobre a língua francesa.
Esse tempo me permitiu constatar que o repertório de um idioma nunca se esgota, pelo contrário, à medida que nos embrenhamos nele, mais caminhos se abrem e nos conduzem ao coração de um ecossistema fascinante. Considero que meu trabalho é mostrar alguns desses caminhos aos alunos, mas sobretudo descobrir outros novos, com eles, durante seus cursos. Esse é um dos sentidos que se pode dar à imagem de uma língua viva, um idioma que se renova ao longo do tempo tanto fora quanto dentro de seus falantes.
Quase duas décadas me deram isso também, a possibilidade de construir minha própria perspectiva a respeito da língua francesa, dos falantes nativos e estrangeiros, do que é possível fazer com um idioma que não é o seu materno, o seu abrigo. Eu espero, com meu trabalho, conseguir isto: ensinar francês para aqueles que quiserem aprender e ajudá-los a participar desta comunidade tão rica e vibrante que é a francofonia, conscientes de que, ao fazê-lo, eles a enriquecem com mais cores e mais vida.
... e seu nome
Chouchou e chuchu não são exatamente a mesma coisa. Chouchou entrou no vocabulário francês a partir de chou, nome do repolho e também uma forma carinhosa de chamar alguém amado, geralmente um bebê. Mon chou virou mon chouchou graças ao processo de dobra das sílabas da linguagem infantil, cruzou a fronteira do ambiente doméstico e entrou na sala de aula para designar o aluno queridinho do professor. Sagrou-se aí, como o nome de um preferido (agora, em qualquer contexto).
E tem o chuchu. O nome desse legume deu muitas voltas desde seus primeiros cultivadores conhecidos até chegar em chuchu no Brasil e em chayotte na França (mais detalhes). Nas nossas terras onde tudo dá, ele virou sinônimo de abundância, do que rende e vale pra chuchu. O chuchu e o chouchou se encontraram no intercâmbio cultural intenso entre Brasil e França no séculos XVIII e XIX. Sua sonoridade [ʃuʃu], idêntica na forma e na meiguice, colaram um no outro e por isso, para nós, chuchu que é o nome de um amorzinho.
Apresento minha newsletter tomando essa história como inspiração. Eu me sirvo dos frutos do contato entre essas duas línguas – o português e o francês –, da fertilidade que produz curiosidades, traduções, entendimentos e desentendimentos, ou seja, que cria um sentido novo às coisas. Quero que essa newsletter seja também um relato pessoal e reflexivo da minha experiência em sala de aula. A francofonia, a linguagem, o ofício de ensinar, tudo isso é meu chouchou.
Aline, 2024